domingo, 29 de agosto de 2010

Assassinato de Amílcar Cabral, uma “estória” mal contada

Assassinato de Amílcar Cabral
Uma “estória” mal contada



Amílcar Cabral, Fundador da Nacionalidade Cabo-verdiana






Filho de Juvenal Lopes Cabral, professor primário cabo-verdiano e da guineense, Dona Iva Pinhel Évora, Amílcar Cabral, nascido em 12 de Setembro de 1924, na Guiné-Bissau foi assassinado em 20 de Janeiro de 1973, em Conakry, estranhamente não pelos colonialistas portugueses, mas sim por companheiros traidores.

Amílcar Cabral estudou agronomia em Lisboa, onde conviveu com jovens de outras colónias – Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade e Lúcio Lara, de Angola, Marcelino dos Santos, de Moçambique, Alda Espírito Santo, de São Tomé e Príncipe, Vasco Cabral, da Guiné, entre outros –, que mais tarde se tornariam também dirigentes dos movimentos nacionalistas nos seus países.



A explicação do assassinato de Amílcar Cabral ainda não convenceu a sociedade cabo-verdiana e alguns guineenses, nem o próprio mundo, a quem este grande homem deixou tanta falta. A VERDADE nunca é dita, porque de forma como este crime bárbaro aconteceu, muitos em princípio estariam implicados, ou por tomarem parte activa ou por ficarem omissos perante este facto, isto é, a eliminação física do Pensador e Dirigente da Independência da Guiné e de Cabo Verde.



Existem testemunhos fidedignos de que havia Movimentos para a Independência da Guiné para além do PAIGC, referindo concretamente à FLING (Frente de Libertação e Independência Nacional da Guiné)



A FLING negava, como nega ainda hoje, a Unidade Guiné - Cabo Verde.

Foi esse Partido que fez o primeiro ataque contra o posto avançado militar português em S. Domingos e, também atacou a coluna militar e um camião civil de mercadorias vindo de Ziguinchor para a Guiné, tendo sido morto naquele ataque, um guineense de etnia Saraculé, de nome Babunda.





Para além de algumas divergências no seio do PAIGC, na altura da luta armada, houve momentos em que essas discordâncias se acentuaram de tal modo que entre 1969 e 1971, altura em que o militante guineense Momo Touré fugiu para Conakry, houve uma grande ruptura entre os militantes.



Segundo as informações recebidas de fontes credíveis, Momo Touré começou de facto a tomar conhecimento dessas divergências, durante a sua passagem pelo mato, até chegar a Conakry.



As contradições sobre a Unidade Guiné-Cabo Verde eram tão visíveis que foram discutidas abertamente em Conakry. Numa reunião de quadros, Amílcar Cabral foi veementemente criticado por Momo Touré e alguns militantes do Partido. Durante as visitas de Momo aos países Comunistas como Cuba, Ex-URSS e RDA, ele não escondeu esses problemas, e falou abertamente para os companheiros que aí se encontravam nos estudos.



Houve várias reuniões de militantes, em Conakry, com o próprio Abílio Duarte a não esconder essa preocupação sobre a Unidade, sendo essa a razão por que solicitou várias vezes à Direcção do Partido para fundar um Conselho Superior de Luta de Cabo Verde, no seio do PAIGC. Apelo esse que não foi atendido por Amílcar Cabral, apesar de reconhecer a necessidade desse Órgão.



O desfecho final disso tudo foi iniciado com a prisão de Momo Touré, Aristides Barbosa e outros, depois de uma reunião de quadros, após várias tentativas de mobilizar Momo para ir estudar; o que ele sempre recusou porque, por um lado, compreendia a artimanha e, por outro lado (e, talvez, fosse essa a razão principal!), preferia ir para frente da luta. Essa última opção nunca foi aceite pela Direcção do Partido, que não o considerava como pessoa fiável. A noite de 20 de Janeiro foi antecipação da acção que estava sendo planificada para se levar a cabo.



O objectivo era prender Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral para, depois, os levar à zona libertada, a fim de serem julgados e destituídos. Amílcar Cabral obviamente, preferiu a morte a ser preso. A sua morte tornava-se inevitável por ter reclamado e enfrentado os seus algozes, os militares do PAIGC que foram incumbidos daquela suja tarefa.



Os homens erram, mas nem por isso devem pagar com a vida pelos seus erros. Imagina-se, como é administrar as diferenças e conciliar os conflitos criados deliberadamente pelo colonialismo. Amílcar Cabral foi vítima de circunstâncias políticas e raciais que a certa altura não foi possível contornar sozinho. De um lado, filho de pai cabo-verdiano, nascido na Guiné, mas que ama a Guiné e Cabo Verde, lutou e deu a sua vida por aquilo que ele considerava como uma justa causa. De outro lado, estavam colocadas as peças do xadrez político, todas elas importantes, mas antagónicas sob o ponto de vista de uma meta traçada - a Unidade Guiné-Cabo Verde. Tanto os cabo-verdianos e os guineenses que estavam na luta como os que estavam fora, não sentiam essa firmeza de unir os dois países geograficamente distantes e culturalmente diversos. Só a "fidelidade" partidária ou lealdade ao Programa do Partido é que poderia debilmente sustentar essa ideologia.





Inquéritos foram feitos, julgamentos foram realizados e muita gente inocente pagou por isso (ajuste de contas) conforme conta Alcides “Batcha” Évora, que participou como intérprete.





- Amílcar Cabral foi assassinado em Conakry pelos seus companheiros de arma por divergências que não eram escondidas, mas que não puderam ser sanadas;

- As principais fitas gravadas no Inquérito com os principais implicados nos assassinatos de Cabral não aparecem;



- Luís Cabral, escreveu o livro sobre as memórias da Luta, mas não referiu claramente os pontos focais sobre a morte de Amílcar Cabral e nem apontou os implicados, ditos vivos;



- O então Secretário-geral Adjunto e principais Comandantes e dirigentes cabo-verdianos, ainda vivos, que estavam presentes em Conakry, não falam do facto de uma forma clara. Alguns apontam o caminho com o dedo encolhido, ou seja, mencionam o assassinato, mas não apontam claramente os mentores intelectuais;



- O livro “Cabo Verde e os Bastidores da Independência”, escrito pelo jornalista, José Vicente Lopes, também não revela nada de importante sobre a morte de Amílcar que mereça investigar a fundo;



- A Polícia Secreta da Guiné não coloca em público os arquivos do PAIGC, uma vez passados já mais de trinta anos pós-independência.



- Por questões de sobrevivência política, não interessa os velhos companheiros de luta de Amílcar Cabral revelar a VERDADE. Senão o Alcides “Batcha” Évora diria os nomes dos acusados, que ouviu falar durante o inquérito internacional.



Onde estão as fitas?

- Durante a Luta, os guineenses morreram: de mortes matadas e morridas tanto pelos portugueses através da sua polícia secreta – PIDE/DGS e de bombardeios aéreos, como também pelo PAIGC através de ajustes de contas. Qual é o cabo-verdiano que foi morto durante o episódio em Conakry? Será que só os guineenses é que não concordavam com a Unidade Guiné-Cabo Verde e com a forma como a Luta estava sendo conduzida? Certamente poderão dizer, mas eles não participaram e nem tinham interesse na morte de Amílcar Cabral.



Ficam essas considerações para reflexão e com a esperança de que se possa saber, com a celeridade possível, os nomes dos responsáveis daquele acto brutal, para que possam ter o merecido castigo.

Sem comentários:

Enviar um comentário